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UM GESTO AZUL

 

 

O conceito de Tapeçaria, desde há muito tempo que sofreu uma evolução acompanhando a do próprio tempo e por razões semelhantes às demais Técnicas. Liberta de um conteúdo descritivo já a partir dos finais dos anos 60, a Bienal Internacional de Praga marca de modo decisivo a independência da Tapeçaria na sua relação com o muro, explorando as hipóteses tridimensionais, servindo-se de materiais heterogéneos. A Tapeçaria, obrigou-se assim, a exprimir pelos próprios meios uma interacção dos espaços dotando-os de climas psicológicos ou mais dispares. As peças de Rosa Godinho estão aqui num envolvimento, ao qual não resistimos. Não, que essas peças o imponham pela agressividade e contundência de um mundo perdido sem rumo, mas tão só, pela essência reconfortante e apaziguadora desta mostra que já, por si, é um convite. Por isso nos envolvemos em cumplicidade nesse gesto azul que ascende, por isso nos tentamos a participar no confronto cromático do sisal, como se fora um jogo, em suma, aceitando um convite à especulação estética do circunstante. Esse é o sentido que particulariza uma obra criativa. Longe de ser inerte e tristemente passiva, a obra de Rosa Godinho foi concebida para aquela envolvência optimizante que é alto contributo para o individuo de hoje. 

Esta constatação dos efeitos psicológicos das peças expostas, só fazem ressaltar a sua qualidade estética, demarcando-se das demais experiências que vamos conhecendo no sector da chama Tapeçaria. Tal se torna evidente nas peças independentes da parede com a dinâmica que tanto as particulariza e decerto indiciam uma pesquisa que cremos muito promissora. A natureza do sisal mais dignificado pela mão e pelo espírito de Rosa Godinho move-se numa ascensão transfigurando o habitual espaço reservado às exposições temporárias deste seu Lugar do Desenho.

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​Júlio Resende

© 2020 by Rosa Godinho

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