ESCULTURAS ASSERTIVAS
E DIALOGANTES
Creio que estamos perante uma arte cúmplice, assertiva e dialogante que consegue edificar muros, paraísos, infernos, florestas, planícies e mares. O desenho de Rosa Godinho não tem barreiras, nem afinidades de temas, nem de matérias, nem de técnicas. O desenho, este desenho escultórico - chamemos-lhe assim - é, antes de mais, um exercício, um verdadeiro exercício de liberdade.
A obra, esta, é construída por linhas reais que deambulam por espaços perpetuados em matéria têxtil, seja em tecidos ou em linhas que celebram momentos mágicos, quais superfícies espelhadas, em conceitos de beleza fascinantes, que se nos apresentam como sombras escultóricas de formas saídas em pleno de uma disciplinada ofício assente numa memória / ausente em paisagem de desenho intencional ou observado.
A magia deste desenho, que se solta pelas pontas dos fios e dos traços, percorre-nos sem medos e pânicos, numa inabalável convicção, em jeito de impulso, de arremesso, que nos transmite uma eternidade calma.
A obra de Rosa Godinho renuncia à vulgaridade e faz-nos acreditar que vivemos num mundo estranho que nos facilita a unificação do enigma, do delírio, da tragédia e da beleza. Entra em nós um conjunto de indagações da paisagem com múltiplas sensações, que nos proporciona uma entrega total, e essa é a perdição delirante desta arte que a todo o momento nos capta energia.
Agostinho Santos | 2019